Oração (talvez) Pagã
aos poetas de todas as contemporaneidades
Ó
poetas sempre desejantes:
rezem
pelas meninas e meninos
das
ruas, morros e alagados
porque
eles não são
mangue
boys nem
almas
penadas afogadas.
e
a bolsa-escola para eles
é
promessa e pesadelo
de
um sonho de outra noite
de
verão ou infernolento?
Ó
mais elegantes poetas elegíacos
no
território das relembranças:
rezem
e roguem pelas paraguaias:
tão
intimidadas pelo mercosul:
primas
loucas de Dionísio,
Roberto
Nietzsche Machado e
Caetano
Orfeo Veloso.
Perambulando
(não flanando)
pelas
várzeas e arredores da
Casa
Grande de Detenção
das
Culturas Híbridas.
Ó poetas panorâmicos no azul-vertigem
neon-barroco-melancólico-brasilírico:
Como interpretar e interpenetrar
o
silêncio, barulhos e segredos
de
muitas vozes retóricas,
devoções
e picardias?
Rezem
e roguem.
Berrem
pelos aterros e desterros.
Ó
poetas-inventores da Escola do Recife:
muito
melhor do que as de Paris?
Se
Gilberto imaginou os Annales
e
Cícero Dias antecipou Chagall,
os
neologismos mário-heliocêntricos
representam
a mímesis transfiguradora
dos
mais belos palavrões do pt:
do
pós-tudo-todos.
Para
todos estudos culturais
o
anarco-super-construtivismo
é
o mais significante ritual
antropocêntrico
de
nossas soberbas lacanagens.
Berrem
pelas neo-antropofagias
Rezem
e roguem pelos sacrifícios
da
mais-valia do xangô
como
dança da vida. Supliquem.
Ó
tão bravos e republicanos
poetas
da idade mídia:
pensem
não apenas
nas
mulheres de Atenas e
nas
garotas gostosamente
antenadas
por um fio pavio.
Vejam
nossas crianças
cotidianamente
violentadas
aquém
das metáforas e metonímias.
Rezem
e roguem por todos os patiches.
Ó
poetas descobridores de mares
e
sentimentos oceânicos:
não
tenham medo
dos
panfletos da poeticidade
em
suas diferenças e dissonâncias.
Roguem
e berrem por todas as
fracossomanias
irredutíveis.
Não
tenham crença em cosmogonias,
cristais
e crisantempos.
Não
tenham fé nas cumplicidades.
Roguem
e rezem pelos temporais
da
erudição e das antologias.
Berrem
pelos poetas ágrafos!
Ó
poetas performáticos
dos
corais de Salomão:
eternamente
fulgurantes no
pós-pois-de-tudo
das melodias,
cobras,
serpentes e lagartos.
Supliquem
por todos os cânticos.
Supliciem
os mestres-diluidores.
Rezem,
roguem, supliquem
por
nós, cegos e desatados,
menores
e maiores abandonados
entre
o amor natural
e
o sexo virtual.
Além
dos pecados veniais.
Ó poetas anônimos, intrusos,
extemporâneos e pervertidos
e que um dia se chamaram
Gregório, Castro Alves,
Ó poetas anônimos, intrusos,
extemporâneos e pervertidos
e que um dia se chamaram
Gregório, Castro Alves,
Carlos
Pena Filho
de Vinícius, Cabral e
de Vinícius, Cabral e
drummundanos
abissais!
da solidão sem y nem d?
Os labirintos da solidariedade
entre pontes safenas do Capibaribe?
e ladeiras valencianas de Olinda?
Rezem e roguem pelos estilhaços
de narrativas em dissertações de
(a)mestrados e bolsistas do cnpq.
Implorem.
Invoquem a musicalidade
pagã da sacerdotisa
Numa Ciro a capela.
Gozem pelas infâmias.
Supliquem e supliciem.
Não digam amém.
Esqueçam santos e orixás.
Amaldiçoem os xará de Rimbaud
e as charadas da máquina do mundo.
Encarem ou desmascarem
a finitude do verbo orar.
-JOMARD
MUNIZ DE BRITTO
http://www.universidadedasquebradas.pacc.ufrj.br/jandir-jr-apresenta-os-atentados-poeticos-de-jomard-muniz-de-britto/
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