sábado, 3 de março de 2012

O Trabalho

O Trabalho

Depois um operário disse-lhe, Fala-nos do Trabalho.

E ele respondeu, dizendo:
Vós trabalhais para poder manter a paz com a terra e a alma da terra.
Pois ser ocioso é tornar-se estranho às estações e ficar afastado da procissão
da vida que marcha majestosamente e com orgulhosa submissão em direcção ao
infinito.
Quando trabalhais sois uma flauta através da qual o sussurro das horas se
transforma em música.
Qual de vós quereria ser uma cana muda e silenciosa, quando tudo o resto
canta em uníssono?
Sempre vos disseram que o trabalho é uma maldição e o labor um infortúnio.
Mas eu digo-vos que quando trabalhais estais a preencher um dos sonhos
mais importantes da terra, que vos foi destinado quando esse sonho nasceu, e
quando vos ligais ao trabalho estais verdadeiramente a amar a vida, e amar a
vida através do trabalho é ter intimidade com o segredo mais secreto da vida.
Mas se na dor chamais ao nascimento uma provação e à manutenção da carne
uma maldição gravada na vossa fronte, então digo-vos que nada, excepto o suor
na vossa fronte, apagará aquilo que está escrito.
Também vos foi dito que a vida é escuridão, e no vosso cansaço fazeis-vos
eco de tudo o que os cansados vos disseram.


eu digo que a vida é mesmo escuridão excepto quando existe necessidade,
E toda a necessidade é cega excepto quando existe sabedoria.
E toda a sabedoria é vã excepto quando existe trabalho,
E todo o trabalho é vazio excepto se houver amor;
E quando trabalhais com amor estais a ligar-vos a vós mesmos, e uns aos
outros, e a Deus.
E o que é trabalhar com amor?
É tecer o pano com fios arrancados do vosso coração, como se os vossos bem
amados fossem usar esse pano.
É construir uma casa com afecto, como se os vossos bem amados fossem
viver nessa casa.
É semear sementes com ternura e fazer a colheita com alegria, como se os
vossos bem amados fossem comer a fruta.
É dar a todas as coisas um sopro do vosso espírito, e saber que todos os
abençoados defuntos estão à vossa volta a observar-vos.
Muitas vezes vos ouvi dizer, como se estivesseis a falar durante o sono,
"Aquele que trabalha o mármore e encontra na pedra a forma da sua própria
alma é mais nobre do que aquele que trabalha a terra.
E aquele que agarra o arco-íris para o colocar numa tela à semelhança do
homem, é mais do que aquele que faz as sandálias para os nossos pés."
Mas eu digo, não no sono, mas no despertar, que o vento não fala mais
documente com o carvalho gigante do que que com a mais ínfima erva;
E é grande aquele que, sozinho, transforma a voz do vento numa canção
tornada doce pelo seu amor.
O trabalho é o amor tornado visível.
E se não sabeis trabalhar com amor mas com desagrado, é melhor deixardes
o trabalho e sentar-vos à porta do templo a pedir esmola àqueles que trabalham
com alegria. Pois se fizerdes o pão com indiferença, estareis a fazer um pão tão amargo que só saciará metade da fome. E se esmagardes as uvas de má vontade, essa má vontade contaminará o vinho com veneno. E se cantardes como anjos mas não apreciardes os cânticos, estareis a     ensurdecedor os ouvidos do homem às vozes do dia e às vozes da noite.

  autor: Gibran Khalil Gibran

Márcia Regina Madeira 

 

 



Nenhum comentário:

Postar um comentário