“Quando estou desistindo, ele sabe o que devo fazer.”(Salmo 142:3a)
Apesar do amargor, dor e vergonha do fracasso, desistir pode ser preciso, necessário, digno e libertador.
A vida como ela é proporciona desistências e nós viventes, não passamos de seres desistentes.
Há um verdadeiro complô universal que ditatorialmente classifica o desistir como coisa de gente fraca.
Saber desistir é vital em algumas situações e pode ser um ato de muita coragem
Há combates em que só nos resta o libertador gesto do fim da luta.
Entretanto, desistir é algo tão nobre que não pode acontecer antes da obediência criteriosa e prática intensa de um rito que vale para todas as pessoas.
Aquele que não cumpre esse ritual é indigno da desistência e a transforma em fuga covarde.
Eis o rito que tem começo, meio e – principalmente – fim:
Clame, peça socorro, suplique por ajuda, leve todas as queixas e problemas a Deus.“Eu clamo a Deus, o Senhor, pedindo socorro;eu suplico que me ajude.Levo a ele todas as minhas queixas e lhe conto todos os meus problemas.”(Salmo 142: 1 e 2)
O socorro pode ser exatamente o desistir. Só Ele sabe o que devemos fazer quando estamos desistindo e desistir pode ser a melhor coisa a fazer.
O dano menor e a dignidade possível são balizadores fundamentais para sabermos o momento certo dessa decisão intensa.
Bob Marley disse que difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que se mais ama. Eu desisti. Mas não pense que foi por não ter coragem de lutar, e sim por não ter mais condições de sofrer.
Encerro com Clarice Lispector: “Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição.
Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés.
Os sentimentos são sempre uma surpresa.
Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho…o de mais nada fazer.”
Que o Senhor nos ajude a entender uma outra afirmação de Clarice.
“O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo”.
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