Agora há pouco. Ônibus urbano. 06 de Setembro de
2012. São Paulo Capital.
Entro no ônibus, munido de meu violão. Um
senhor de 81 anos diz:
- Esse aí gosta!
Começa um diálogo.
- Sim senhor, vamos trabalhar, né? Tenho um
show Sábado.
- Isso mesmo garoto, não pare não, continue. Eu
toco Sax em Si Bemol.
E eu puxo um papo.
- Ah, estou lendo a autobiografia de um músico
negão figura, o Charles Mingus.
- “Saíndo da Sarjeta” – Mingus é foda! Também
estou lendo!
Diz um cara ao lado, de 52 anos, que
subitamente remove seus fones do ouvido, eufórico.
Diálogo saudável e respeitoso se estende até o
Metrô Jardim São Paulo. E que aula de Jazz & Blues eu tive daqueles dois,
logo cedo. Nem vi o tempo passar, nem mais reclamei por estar carregando uma
mala pesada com equipamentos e um violão, pois foi pelo violão que começou o
papo.
O Senhor então diz:
- E esse encontro de nós três não foi por acaso
viu? Foi o “homi” lá de cima que arquitetou.
E quem sou eu para contestá-lo, né? Afinal ele
toca Sax em seu apartamento no Conjunto Bancários, mas reclama que os vizinhos
reclamam. Disse que toca com a porta do guarda-roupas aberta e apontado para
dentro dele, para abafar o som. É...em tempos de tantos sons ruins por aí, tem
um senhor negro gato de 81 anos dentro de seu quarto, quieto, esbanjando
musicalidade e swing.
Chegamos ao metrô e me despedi de ambos,
entregando-lhes o meu CD autoral. Aquele senhor simpático, negro, velho, porém
jovem de alma e de humor, beija a minha mão e meu CD, e me agradece, abençoando-me. Isso mesmo!
Logo eu, um branquelo aguado de 32 anos.
Sem muita reação, beijei-lhe a face e o abracei com força, emocionado.
Estava muito sol, os pássaros cantavam na pracinha.
O “Apartheid” teria muito o que aprender com
esse nosso encontro. Encontro de três pessoas de épocas diferentes, lugares
diferentes, cores diferentes. Porém, unidos em alma e afinidade, pela música,
pela arte, pelo meu violão. Máximo respeito àqueles dois.
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