sábado, 6 de outubro de 2012

A Arte de Ser Feliz



Felippe Ramos, no blog Viver Refletindo
Ser feliz, é mais simples do que se imagina. A felicidade pode ser encontrada numa roda de amigos, no sorriso, no gesto de carinho, gentileza, humildade e gratidão, nas atrapalhadas do dia, nas conversas pelo telefone, ao escutar a voz de quem você ama, no preparo de uma refeição, nos ataques de risos solitários, nas lembranças do passado, nas páginas de um livro, nas viagens produzida pelas músicas, na contemplação da natureza, “jogando conversa fora”, nas partidas de futebol, na vibração pela vitória, nas conquistas, nos desafios da vida e por ai vai…. Coisas e fatos que cercam nosso dia-a-dia e que basta de nós, apenas o olhar e o coração sensível para ver a felicidade que nos cerca.
Assim, como Cecília Meireles, consigo olhar pela janela, e encontrar felicidade….
CECÍLIA MEIRELES – A ARTE DE SER FELIZ
Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um chalé.
Na porta do chalé brilhava
um grande ovo de louça azul.
Neste ovo costumava pousar
um pombo branco.
Ora, nos dias límpidos,
quando o céu ficava da mesma
cor do ovo de louça,
o pombo parecia pousado no ar.
Eu era criança,
achava essa ilusão maravilhosa e
sentia-me completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha
janela dava para um canal.
No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores?
Quem as comprava?
Em que jarra… em que sala,
diante de quem brilhavam,
na sua breve experiência?
E que mãos as tinham criado?
E que pessoas iam sorrir de
alegres ao recebê-las?
Eu não era mais criança,
porém minha alma ficava
completamente feliz.
Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um terreiro,
onde uma vasta mangueira
alargava sua copa redonda.
À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase o dia todo sentada
uma mulher, cercada de crianças.
E contava histórias.
Eu não podia ouvir, da altura da janela,
e mesmo que a ouvisse, não entenderia,
porque isso foi muito longe,
num idioma difícil.
Mas as crianças tinham tal expressão
no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.
Houve um tempo em que na minha janela havia um
pequeno jardim seco.
Era um tempo de estiagem,
de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas
de água sobre as plantas.
Não era uma rega:
era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava
completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

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