domingo, 7 de julho de 2013

Capítulo 2 O SORRISO DA CACHORRA

O SORRISO DA CACHORRA

CAPÍTULO 2
A política e o luau
fato de ser um dos melhores alunos da escola e ser respeitado pelos colegas e professores o credenciava a fazer política. Iniciou então uma discussão sobre a volta do GRÊMIO ESTUDANTIL, que durante o período da ditadura tinha sido proibido. Disputou então a eleição contra uma chapa do Partido Comunista, que tentava não só estar no movimento estudantil, mas conduzi-lo de acordo com o interesse do partido e não Dos estudantes. Na véspera da eleição, juntou-se a dois colegas para pichar as imediações da escola. Foi um sucesso! No dia seguinte, estava tudo pichado, sem que a chapa adversá
ria tivesse tempo de reagir. Disputa com o PC, que o acompanharia por toda sua trajetória no movimento estudantil, a eleição foi uma barbada, sua chapa teve 98% dos votos e, com esta eleição, ele se tornou o primeiro presidente de Grêmio livre, depois da ditadura militar. Como presidente do grêmio, tinha espaço para falar no hasteamento da bandeira às segundas-feiras, provocando desafios à direção da escola, o que o tornou ainda mais respeitado; no entanto, fazendo também alguns inimigos.
 Durante a semana estudava e fazia política. E virava noites estudando com seus amigos. Aos sábados caminhava uma légua até a casa do seu amigo Antônio para estudar, jogar sinuca e tomar banho de piscina. À noite, saía pelos bares; não bebiam, pois não tinham dinheiro, e também nunca conseguiam ficar com mulher nenhuma.
Sendo ele, Doutor e Antônio alunos estudiosos, passaram a ser convidados para as festas, já que nas provas eles passavam “cola” para os colegas que não eram muito de estudar, por pura “solidariedade”, divertimento e, é claro, irritar as autoridades da escola, sendo o fato há muito notado pelos professores, mas isso é outra história.
A semana se iniciou com a expectativa de lua cheia para sexta-feira. Isso trazia a possibilidade de luau na praia. Estava uma linda noite, e então marcaram no posto sete, onde havia um grande calçadão de pedra. Logo após, num plano mais baixo, uma palhoça na areia da praia. A lua, bela lua, deixava todo o mar prateado como os cabelos de Iemanjá, o terral, o mar calmo, um campo de sonhos. Reuniram-se em torno da fogueira bebiam vinho e Antônio divertia a todos com suas piadas e histórias engraçadas. Com o passar do tempo e alguns copos de vinho, ele, André, como novo presidente do Grêmio, se destacava com suas explanações sobre política, o mar e paixões, atraindo a atenção de uma nova colega, Mira, uma bela menina de olhos negros e pequenos, pele dourada e cabelos castanhos na altura dos ombros. Estava de vestido de alcinhas, azul, com pequenas flores amarelas, tinha lindos seios grandes e quase à mostra, e o corpo com um suave cheiro de flores de laranjeira. Logo estavam a sós, falando como era deslumbrante seu cheiro, sua pele e sua voz. O clima, a lua, o mar, tudo aquilo o deixou fascinado e disposto a apaixonar-se por aquela linda morena. Percorreu todo seu rosto com o leve toque de seus dedos, envolvendo finalmente seu pescoço com sua mão e beijando-a calma e suavemente. Nessa época, as festas de seu grupo eram divertidas, mas ingênuas. Conversavam mais que namoravam, não usavam drogas nem mesmo fumavam, e sexo... ainda estava longe para eles, lamentavelmente, é claro!
Na segunda-feira seguinte era o que se comentava em sua turma. E foi então que ele teve duas surpresas. Assim que chegou à escola, Mira estava esperando-o no fim do corredor de entrada. Inesperadamente ela o pedia para esquecer tudo que tinha acontecido, e ele nunca soube o porquê daquilo. Ela falara que adorara, mas não podia continuar.

Para sua surpresa, o fato tinha despertado o interesse de outra pessoa que não estava na festa, por estar com seu filhinho. Essa moça, a menina-mulher de olhos verdes, passou a sondar com todos o que tinha acontecido naquele luau. Até que, finalmente, ele foi procurado por uma amiga em comum, que perguntou o que realmente tinha acontecido. Ele falou o que ocorrera e que tinha terminado por ali mesmo. A partir de então, ela, muito discretamente, passou a observá-lo. Assim terminou o primeiro semestre daquele ano, porém, sem que ele percebesse o interesse dela.

Daniel Barros, 44, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos romances O sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, e Enterro sem defunto, em processo de edição.



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