quinta-feira, 25 de julho de 2013

Pai de Cinzas

Hoje fazem quatro anos que meu pai morreu, então resolvi escrever um texto que trata-se de uma  singela homenagem
Quando o pai morreu um deus morreu em mim. o universo dos meus sentidos foram inundados por uma dor solitária e vazia de vontade. não havia o Deus porque não havia o pai.
O luto, que não chega a termo, esvanece a imagem do pai, assim o Deus também tarda a vir, já não é real, já não há. não se deve dizer descrença, apenas insensibilidade.
A dor se dilui pelos dias mas ainda estou solitário e tenho um espaço na alma onde nada cabe.
Na ausência física do pai se institui a ausência relacional de um Deus pai.
Onde estará meu pai agora? Já não existe, já existiu, não mais agora. o deus já existiu, não mais agora?
O pai, ou aquilo que ele foi, guardou-se numa caixa de madeira, uma caixa feia colocada sob a terra. não posso ouvi-lo, não posso falar com ele, a sua face gravada na minha memória vai se turvando.
Noites há, noites muitas, que sonho com o pai, vivo! Temendo perder a lembrança do seu rosto,  me esforço em lembrar da voz, dos seus trejeitos, seu cheiro, sua risada, seus gritos, me esforço e temo perder essa memória, como se essa outra perda representasse um esquecimento de mim mesma, não encontrar o pai é perder-me, já não saber quem ou porquê sou.
Miro o espelho e persigo em meu rosto o reflexo do pai. quero re-conhecer-mer. quero saber quem sou, para que sou e de que matéria sou feita. O pai está longe, absolutamente irreal, sem substância, sem existência.A orfandade é uma  tristeza! não há esperança.
Tornei-me rígido, desconfiado. A orfandade é uma prato de migalhas secas, um grande quarto frio com paredes altas e sem chão. janelas que se batem ao vento lembrando as horas que somem. sonolento deambulo por este quarto para que não se perca da minha memória a imagem do deus e temo perdê-la infinitamente. o pai nunca mais voltará.

Um comentário:

  1. Amigo Carlos, belo texto, entretanto, tomo a liberdade de fazer algumas ressalvas quanto ao sentido, porque a forma está irretocável; bem escrito. Na verdade nunca mais veremos o corpo(matéria perecível, mortal, portanto), o espírito imortal, este, certamente o veremos.
    Um abração. Tenhas uma boa noite.

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