domingo, 1 de setembro de 2013


Capítulo 10  O sorriso da cachorra
O Bar Canteiros
Dois dias depois, ela ligou. Estava muito triste, com problemas com seu “ex”, e precisava encontrar com ele. André notou sua voz trêmula, como se tivesse chorado. Ficou preocupado e perguntou se ela não queria que ele fosse imediatamente encontrá-la. Ela respondeu rapidamente que não, que não tinha como justificar sua saída àquela hora, e pediu então para vê-lo no outro dia, após a aula, mas que fosse escolhido um local discreto.
Foto: Daniel Barros
O BAR CANTEIRO ficava na Rua Augusta, conhecida como Rua das Árvores, porque ser totalmente margeada por árvores imensas, a ponto de nunca levar sol, sempre sombreada por suas exuberantes copas. O bar ficava no final da rua, do lado direito, último quarteirão, o único em aclive, uma pequena ladeira de aproximadamente duzentos metros, e ficava em cima de uma lanchonete. Sua entrada se dava por uma escada que era paralela à rua no mesmo sentido. Ao final fazia-se uma curva para o sentido contrário, à frente uma varanda com mesas dos dois lados. Do lado esquerdo havia uma enorme porta seguida por quatro janelas, todas de madeira. A entrada dava para um salão com várias mesas e um espaço central reservado para dança. Do lado esquerdo da porta, ficava o bar, um grande balcão, também de madeira, atrás do qual ficam grandes prateleiras de bebidas, uma pequena janela onde eram feitos os pedidos à cozinha. Era um ambiente antigo e a meia luz.
Ele chegou um pouco mais cedo, ainda o sol não havia se posto. Escolheu, na varanda, do lado direito, uma mesa que dava para o poente. Dali dava para ver o sol por sobre a copa das árvores, pondo-se lentamente por trás delas. Ele a viu chegando, levantou-se e virou-se para a escada. O sol ao entardecer a deixava mais bonita. Seus olhos estavam ainda mais verdes, e seu perfume, como sempre, o inebriava. Puxou-lhe uma cadeira de forma que ela ficasse de frente para o pôr do sol, e sentou-se do lado oposto. Ela aparentava certa aflição. No entanto, ele sorriu, tocou levemente sua mão e perguntou-lhe o que ela queria beber. Patrícia respondeu que não sabia e ele sugeriu um Martini. Assim, acenou para o garçom e fez o pedido. Os dois falaram sobre amenidades, enquanto a dose dela não chegava.
Ela falara que sentira muita falta dele, que pensara nele continuamente, e que não conseguia esquecê-lo. Sonhava com as tardes de amor que passavam juntos e dos cuidados dele para com ela. Ele falara que sentira o mesmo, mas que, como a prometera, não poderia procurá-la. Tentou pegar sua mão, porém ela olhou para os lados e, num gesto com a cabeça, pediu que não. O garçom deixou cair por descuido a tampinha da garrafa de cerveja que ele bebia. Simultaneamente ambos a pegaram, e suas mãos encontraram-se novamente. O garçom percebeu a traquinagem dos adolescentes, sorriu e se retirou. Ela ficou com a tampinha e colocou a mão por baixo da mesa, quase que o convidando a um encontro de mãos às escondidas por sob a mesa. Era mágico o toque de suas mãos: acariciavam-se como se fosse um abraço, um beijo. Era tudo que eles podiam fazer naquele lugar, mas o desejo ia aumentando e ele muito calmamente pediu-lhe para sentar-se ao lado dela, com a desculpa de também ver o pôr do sol. Ela acabou por consentir e ele pôde então permanecer segurando sua mão por sob a mesa; trocando posteriormente a mão dela pela coxa.
De forma suave, a tocava carinhosamente e ela não conseguia resistir. André então subiu as carícias das coxas para algo mais, instante em que Patrícia segurou sua mão, mas não a tirou. Fechou os olhos, e foi nesse momento que ele a beijou. Já não mais se preocuparam com os outros. Ele era um homem e a protegeria de qualquer coisa, nada mais importava a não ser o seu amor por aquela mulher. Beijaram-se e prometeram nunca mais se separar. Comeram algo, e ele a levou para casa, deixando-a como sempre na esquina. Quase não dormiu direito, estava meio trêmulo e muito feliz: seu sonho voltara.





Foto: Lila
*Daniel Barros, 44, escritor e fotógrafo alagoano residente em Brasília, é autor dos romances O sorriso da cachorra, Thesaurus, 2011, Enterro sem defunto, Editora LER, Coletânea Contos Eróticos e Contos Sobrenaturais Enquanto a Noite Durar editora APED.

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