quarta-feira, 29 de abril de 2015

Jovem reinado do velho Rei


Jovem reinado do velho Rei 

É duro, é mau, um trabalho pesado – mal pago e demasiadamente cansativo;
É puro osso, mas é bom... vale a pena tal masoquismo – maniqueísmo. Será?
Se liga que a opção é entrar em ação, largar a ração e comer caviar; vem cá, ver ar e respirar fundo, pois o fundo do poço sobrou ao cinismo.
Achei meu chiclete perdido no fundo da bolsa, amassado, solitário, ainda cheiroso e macio; achei meu clichê perdido na ponta da língua, engomado, acompanhado, ainda leso e embirrado, clamando pela soltura... Por um fio!
E aquela formosa lacuna a ser preenchida? 
– Talvez por um novo amor, um amor verdadeiro, com alma e cheiro – boca sedenta pintada de magenta e um ar de loucura.
E aquele tempo perdido? 
– Talvez um sexo mal feito, um rasgo no peito e o ardo compromisso de não ser omisso e se dar por inteiro enlameando-se no ofício.
Eis um novo reinado de um grande palácio, com mais de cem quartos, sem seios fartos, orgia e folia... Eco solitário na imensidão do vazio.
Quem seria o amor de ontem que ainda toca no hoje com o largo risco de continuar tocando no amanhã?
O Rei é seu amigo: vá comer em sua mesa, devorar seus queijos e se afogar nos vinhos.
O Rei é seu umbigo: não é preciso tirar proveito de quem a ama, esquecer seus beijos e se afogar em outros ninhos.

Velho reinado do jovem Rei 

O sorriso para as aves que chegam do infinito; novo abrigo para os que preferem vir pelo mar. Osso para o cachorro ficar, brincar e esconder, caneta para escrever, vitimar e tirar cera do ouvido. A nuvem escura chegou – nuvem prometida; traz chuva, traz vida, regando sedentos. Cá estamos em casa nos embriagando de música; braços e pernas presos, agarrados aos instantes e “Mutantes” na vitrola dos hiantes amantes. Nas mãos o punhado de flores colhidas, nos vasos o intenso cheiro puro da terra; o aquário o clichê de peixes dourados e adorados por exporem a todos suas vidas. Quadros amarelados, pelas paredes, espalhados, cansados da vida no mesmo cenário; atrás deles escondidas, alvas e frias lagartixas devorando todos os insetos devidamente desavisados.
Está tudo certo – absolutamente sob controle: a vida segue o norte que se deu e que se dá... Num grande sacolejar, quase virando o barco: Uns morrem, uns porres, uns nadam, uns nada e uns vivem de molho.
Chamuscaram a loucura no incêndio da alma, pois ela vive na externa, na espreita da cura; Absurda é na artéria, sem medo, correndo vermelha, a paixão suntuosa e frenética, carnal, corriqueira. Seu corpo no meu colo – pode ser agora? Já traço; é o meu rolo... Faço um bolo de amora para o lanche e o lance é você trazer a Coca-Cola.
Vimos todos deixando de ser guiados por outros, vimos tolos pensando em falar a língua dos anjos; lapidamos a escultura da nossa personalidade, amparados, juntos e separados; cada qual no seu trono.

Até coloquem palavras em minha boca... Mas que nasçam poesias.

André Anlub
(fragmento do livro: Elos Literários II (Antologia))

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