segunda-feira, 27 de abril de 2015

ORAÇÃO (TALVEZ) PAGÃ



Oração (talvez) Pagã

aos poetas de todas as contemporaneidades


Ó poetas sempre desejantes:

rezem pelas meninas e meninos

das ruas, morros e alagados

porque eles não são

mangue boys nem

almas penadas afogadas.

e a bolsa-escola para eles

é promessa e pesadelo

de um sonho de outra noite

de verão ou infernolento?



Ó mais elegantes poetas elegíacos

no território das relembranças:

rezem e roguem pelas paraguaias:

tão intimidadas pelo mercosul:

primas loucas de Dionísio,

Roberto Nietzsche Machado e

Caetano Orfeo Veloso.

Perambulando (não flanando)

pelas várzeas e arredores da

Casa Grande de Detenção

das Culturas Híbridas.


Ó poetas panorâmicos no azul-vertigem
neon-barroco-melancólico-brasilírico:
Como interpretar e interpenetrar

o silêncio, barulhos e segredos

de muitas vozes retóricas,

devoções e picardias?

Rezem e roguem.

Berrem pelos aterros e desterros.

Ó poetas-inventores da Escola do Recife:

muito melhor do que as de Paris?

Se Gilberto imaginou os Annales

e Cícero Dias antecipou Chagall,

os neologismos mário-heliocêntricos

representam a mímesis transfiguradora

dos mais belos palavrões do pt:

do pós-tudo-todos.



Para todos estudos culturais

o anarco-super-construtivismo

é o mais significante ritual

antropocêntrico

de nossas soberbas lacanagens.

Berrem pelas neo-antropofagias

Rezem e roguem pelos sacrifícios

da mais-valia do xangô

como dança da vida. Supliquem.



Ó tão bravos e republicanos

poetas da idade mídia:

pensem não apenas

nas mulheres de Atenas e

nas garotas gostosamente

antenadas por um fio pavio.

Vejam nossas crianças

cotidianamente violentadas

aquém das metáforas e metonímias.

Rezem e roguem por todos os patiches.



Ó poetas descobridores de mares

e sentimentos oceânicos:

não tenham medo

dos panfletos da poeticidade

em suas diferenças e dissonâncias.

Roguem e berrem por todas as

fracossomanias irredutíveis.



Não tenham crença em cosmogonias,

cristais e crisantempos.

Não tenham fé nas cumplicidades.

Roguem e rezem pelos temporais

da erudição e das antologias.

Berrem pelos poetas ágrafos!



Ó poetas performáticos

dos corais de Salomão:

eternamente fulgurantes no

pós-pois-de-tudo das melodias,

cobras, serpentes e lagartos.

Supliquem por todos os cânticos.

Supliciem os mestres-diluidores.

Rezem, roguem, supliquem

por nós, cegos e desatados,

menores e maiores abandonados

entre o amor natural

e o sexo virtual.

Além dos pecados veniais.

Ó poetas anônimos, intrusos,
extemporâneos e pervertidos
e que um dia se chamaram
Gregório, Castro Alves,

Carlos Pena Filho
de Vinícius, Cabral e

drummundanos abissais!




Como revisitar a dialética
da solidão sem y nem d?
Os labirintos da solidariedade
entre pontes safenas do Capibaribe?
e ladeiras valencianas de Olinda?
Rezem e roguem pelos estilhaços
de narrativas em dissertações de
(a)mestrados e bolsistas do cnpq.
Implorem.
Invoquem a musicalidade
pagã da sacerdotisa
Numa Ciro a capela.
Gozem pelas infâmias.
Supliquem e supliciem.
Não digam amém.
Esqueçam santos e orixás.
Amaldiçoem os xará de Rimbaud
e as charadas da máquina do mundo.
Encarem ou desmascarem
a finitude do verbo orar.



-JOMARD MUNIZ DE BRITTO



http://www.universidadedasquebradas.pacc.ufrj.br/jandir-jr-apresenta-os-atentados-poeticos-de-jomard-muniz-de-britto/

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